"Portrait D'eux", por: Catártica (2022)

 Portrait D’eux, um olhar intimista sobre cinema, ídolos, sonhos e o lugar da mulher na sociedade moderna

 “Qual a maior lição que uma mulher deveria aprender? Que desde o primeiro dia ela já tinha tudo que precisava dentro de si. É o mundo que convence do contrário.”

 É assim, citando a icônica frase da poeta feminista contemporânea Rupi Kaur, que começa Portrait D’eux (que significa “retrato delas” em francês) a mais nova produção da Catártica Filmes. Portrait D’eux é um documentário  que nos traz uma perspectiva extremamente interessante relacionada a assuntos de relevância social tais quais as causas feministas, LGBT e questões relacionadas ao movimento negro.

Isso, porém, é explorado de maneira extremamente criativa, uma vez que a obra conta com cinco segmentos principais e em cada um deles aprendemos um pouco sobre a história (e também sobre a pessoa em si) das mulheres que compõem o grupo. Cada segmento nos apresenta a uma integrante diferente e, a partir deles, podemos observar um pouco sobre aquela pessoa, sobre seu passado, seus gostos, suas inspirações e aspirações para o futuro e, principalmente, sobre como as causas anteriormente mencionadas entraram e afetaram as suas vidas.


Todas as integrantes também trazem uma referência, uma mulher cuja história pode ser relacionada com a sua própria de alguma forma, seja em dificuldades em comum, seja em uma relação de admiração e referência, o que ajuda a criar a conexão de situações absurdas do passado com as mesmas situações absurdas que ainda ocorrem hoje em dia, um feito muito mais difícil de se alcançar do que talvez possa parecer e um grande acerto por parte da obra.


Vez que cada segmento é basicamente um monólogo, a produção acerta em usar de arquivos pessoais, fotos e vídeos de infância, e de algumas sequências em que cada integrante do grupo interpreta brevemente em estúdio as mulheres que trazem como referência. As mulheres citadas também têm uma característica em comum, foram silenciadas, de alguma forma, por serem mulheres, fato que torna o resgate destas situações e destas mulheres dentro da obra (pensada e executada por jovens e, em grande parte, por mulheres) quase um ato simbólico. Isto, junto com a estética documental e o formato onde todas as integrantes contam a sua própria história antes de ligá-la com a de sua referência, permite que os temas sejam abordados com a naturalidade única das histórias reais, bem como torna muito mais fácil o processo de identificação do que está ali sendo retratado.


Porém, mesmo entre os vários pontos positivos aos quais eu poderia falar sobre em páginas e mais páginas, a meu ver existe um que merece destaque especial, a sensibilidade e honestidade que a obra consegue entregar ao público. Veja, os assuntos tratados não são simples, longe disso, e alguns dos casos trazidos são realmente muito complexos e densos, até mesmo pesados eu diria, mas a obra consegue navegar lindamente por esses temas e, a partir da validação destas histórias, nos apresentar também as jovens que compõem o grupo, seus objetivos, desejos, gostos e também dúvidas e dificuldades e é justamente na maneira como cada uma relaciona as situações vividas por elas com as situações vividas por aquelas mulheres que vieram antes delas que a obra brilha mais forte do que qualquer coisa que eu tenha visto em um bom tempo, pois conseguir se expor desta forma na frente de uma câmera para que o mundo ou mesmo uma pessoa que seja não é uma tarefa fácil, e extrair do espectador um sentimento de esperança ao fim de tudo é ainda mais difícil, e a obra realiza ambas as coisas com perfeição.


Por último, eu gostaria de deixar aqui citar aqui uma frase dita por Beatriz Paranhos (Protagonista em um dos segmentos da obra e membro da Catártica filmes) Quando questionada “Qual parte da obra você mais gostou e por que ?” sua resposta foi “... acho que a parte que eu mais gostei é quando eu falo sobre mim ... e isso é muito legal, é um exercício mesmo de perceber, de olhar aqui pra dentro e entender o que é que me move, o que é que grita, o que é que chora, o que é que dói, o que é que me afeta...” Trago essa parte em específico pois sinto que, ainda que tenha vindo de uma das pessoas responsáveis pela produção da obra, estes são os mesmos sentimentos que a obra desperta em seu público, e esse é um convite a reflexão que simplesmente não tem preço.


A obra Portrait D’eux se encontra disponível, completa e gratuitamente, no canal do YouTube da Catártica Filmes, juntamente com outras obras da produtora: 

 https://www.youtube.com/@catarticafilmes9090

Siga também no Instagram: @catarticafilmes e @portraitdeux

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