Resenha de Filme: Parasita, 2019.

“Parasita” é um longa-metragem sul coreano de suspense, comédia e drama de lançado em 2019, dirigido por Bong Joon-Ho, quem também roteirizou juntamente com Jin-won Han. O filme venceu quatro prêmios da Academy Awards, ou Oscar, em 2020, sendo estes: prêmio de melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro original e melhor filme estrangeiro, além de ser premiado no BAFTA – British Academy Film Awards – e no Globo de Ouro.

É um filme que retrata principalmente a crítica social de desigualdade entre as classes na Coreia do Sul, e mesmo sendo uma realidade diferente pode-se identificar semelhanças com outros países emergentes, como o Brasil, onde é mais difícil ascender socialmente e economicamente e assim transitar em diferentes classes sociais. Tal conceito fica claro em vários momentos, tanto em diálogos de forma mais expositiva, quanto na escolha das locações, os ângulos de filmagem e até na composição das cores e da iluminação.

Em muitas cenas pode-se ver escadas e diferentes níveis, além de diferentes planos, usando a profundidade da tela para dar destaque ou contar parte da história, corredores escuros e apertados quando mostra a realidade da família Kim, trazida no filme para representar a classe mais baixa, com um extremo simbolismo em sua casa parte subterrânea, enquanto percebemos o contraste com a casa da família Park, trazida no filme para representar a classe mais alta, numa região alta com vista privilegiada, uma casa grande e bem iluminada. Os ângulos de filmagem trazem boa parte das sensações do filme e aqui Bong Joon-Ho trabalha com “linhas invisíveis”, onde mesmo estando na mesma locação as famílias ainda estão divididas por linhas no cenário, ou por iluminação e cor. Outro exemplo claro são os dois pontos de vista abordados quando chove na cidade, os patrões gostam por ter limpado a paisagem e assim poderiam apreciar mais sua vista, enquanto os empregados sofreram de muitas perdas com as enchentes.

Ainda assim, mesmo mostrando duas realidades totalmente diferentes, Parasita consegue manter uma unidade temática, sendo esta a desigualdade gritante entre as vivências das famílias abordadas. E também uma unidade de ação, sendo estas as diferentes jornadas dos integrantes da família Kim, mas com o mesmo objetivo: melhoria de vida e ascensão social, o que pode levar a cogitar-se um multiprotagonismo, ou multiplot, porém neste caso é um falso mutiplot, já que temos a mesma jornada, sendo uma Narrativa Clássica, contudo com pontos de vista diferentes, dado que cada personagem tem suas camadas e perspectivas e ideias distintas do que seria o sucesso. Esta, por outro lado, é uma característica da Narrativa Moderna, compondo assim a narrativa presente no filme: Narrativa Híbrida, ou mista, assim então garantindo a Bong Joon-Ho e Jin-Won Han o Óscar de Melhor Roteiro Original.

Estruturalmente, nota-se o uso da Narrativa Clássica principalmente com o filho da família Kim, Ki-woo, evidenciado sobretudo na cena que ele se imagina comprando a casa pertencente hoje à família Park e ascendendo socialmente, até seus trajes e postura estão mudados, tendo isso como seu objetivo e iniciando sua jornada (no qual na narrativa clássica chama-se jornada do herói, ou archplot). Por outro lado, a Narrativa Moderna está presente justamente no tema e na reflexão trazida, satirizando a crítica social, quase como um pedido de socorro mais claro, além das variadas interpretações e questionamentos deixados pela obra, como a reflexão de quem são os verdadeiros parasitas, família Kim que usa os bens da família mais rica, ou a família Park que são totalmente dependentes e usam os serviços e o tempo dos seus empregados?

Em relação aos personagens, Bong Joon-ho os trouxe para a área mais cinzenta possível, no cinema isso quer dizer que não há “vilões” ou “mocinhos”, e sim que todos cometem seus erros tal como ocorre na realidade. A família pobre comete erros, porém talvez sejam justificáveis pelo tão pouco que eles tem e pela busca da melhoria, enquanto a família rica é ao mesmo tempo mesquinha e amigável, muitas vezes sem a noção de que existe um outro lado na sociedade. O plano para muitos questionável de infiltrar sua família na casa dos Park criado pelo filho dos Kim, que iria inicialmente apenas dar aulas de inglês pode ser visto como uma tentativa arriscada de conseguirem viver, nem que por parte do dia, numa casa confortável, diferente da sua realidade. O diretor traz quase uma reflexão do que seria necessário fazer para ascender na vida, questionando o caráter de quem assiste.

Parasita ter ganho tantos prêmios ao redor do mundo traz o pensamento que produtos artísticos de outros locais ainda podem surpreender, e nos lembra que ainda há muito para se explorar nesta indústria. A crítica feita em Parasita ainda pode se adaptar a realidades de outros países, e isso é parte do que torna o filme genial, trazer uma nova cultura mas conversar com todos. Além disso, podemos explorar os meios diferentes usados pelo diretor, não somente o uso da Narrativa Mista bem executada, mas como as inovações nas filmagens, como ângulos e iluminação, ou o fato dele transitar em gêneros tão diferentes e ao mesmo tempo ornarem entre si, dentro da trama. Parasita abriu muitas portas e com certeza isso beneficiará muito a indústria cinematográfica.



Escrito por: Isa Araújo Oliveira

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